A Polícia Civil de Cruz Alta, no Noroeste do Rio Grande do Sul, apura a morte de uma menina de 2 anos e 10 meses que não conseguiu transferência para uma UTI pediátrica. Os pais de Betina Bessa Mendes registraram um boletim de ocorrência, relatando a demora na espera do leito.
Conforme o delegado Márcio Marodin, a delegacia irá verificar as informações junto às autoridades de saúde. A investigação deve durar 30 dias, para então ser encaminhada à Justiça.
“A partir daí, se a gente vislumbrar algum tipo de crime, vai ser instaurado o competente inquérito policial para apurar os fatos”, diz.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES), responsável pela regulação de leitos, diz que não havia superlotação de UTIs pediátricas. Contudo, a paciente precisava de suporte de diálise, cirurgião pediátrico e nefrologista, e que não havia disponibilidade desses profissionais em um mesmo hospital até a manhã de sábado (1º).
Quando a vaga de terapia intensiva foi disponibilizada, também no sábado, a menina já não tinha condições de saúde para a transferência, informa a SES. Betina veio a falecer na tarde daquele dia.
Dor da família
Betina passou mal em casa, no domingo (26), apresentando sintomas de vômito e diarreia. A família levou a criança até uma unidade de pronto atendimento (UPA), de onde foi transferida para o Hospital São Vicente de Paulo na quinta-feira (30). A equipe do hospital buscou a vaga em uma UTI pediátrica, mas não conseguiu.
Em nota, a instituição lamentou o caso e disse ter feito o possível para conseguir a transferência. Já a administração da UPA afirma que todos os exames e medicamentos solicitados foram realizados e que vai investigar se houve demora na transferência para o hospital.
À RBS TV, os pais de Betina, Rodrigo Mendes e Catiele Bessa, cobraram atenção das autoridades para casos envolvendo crianças.
“Nossa princesa. Não tem explicação ir dessa maneira. Ela sofreu tanto…”, disse a mãe, Catiele, emocionada.
A família chegou a procurar o Ministério Público, que conseguiu uma ordem judicial para a disponibilização de leito.
“Eu quero pedir que os poderes públicos olhem bem para isso aí que aconteceu e não deixem acontecer com outra família a dor que nós estamos sentindo. Isso aí destrói o chão de qualquer pessoa, acabou com nossa vida”, lamentou o pai.
A SES afirmou que, na sexta-feira (31), os médicos da Central de Regulação Estadual e da equipe de Cruz Alta avaliaram “não haver necessidade de transferir de madrugada. Tratava-se da necessidade de leito específico para o caso”. Posteriormente, “a Central de Regulação disponibilizou o leito no sábado pela manhã mas não houve condições de saúde para a transferência”. Veja a nota completa abaixo.
Nota da SES (03/01/2022):
“A Secretaria Estadual de Saúde informa que na sexta-feira a noite, decisão técnica, entre os médicos da Central de Regulação Estadual e da equipe de Cruz Alta avaliou não haver necessidade de transferir de madrugada. Tratava-se da necessidade de leito específico para o caso. A Central de Regulação disponibilizou o leito no sábado pela manhã mas não houve condições de saúde para a transferência. Lamentamos o óbito, mas por questões éticas e de respeito a família, não tratamos publicamente sobre casos específicos. Ressalta ainda que não está sendo registrada superlotação de leitos de UTI Pediátricos no Estado.”
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G1 RS