A presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), foi submetida a uma operação de revascularização do miocárdio. Duas mamárias foram realizadas para desviar sangue da aorta para as artérias coronárias.
Gleisi não apresentava sintomas, mas durante um check-up ficou constatada uma grande obstrução: 90%. A deputada tem 58 anos e é fumante. A ausência de sinais frente a um problema cardiovascular grave é mais comum entre as mulheres.
Dois dos melhores cardiologistas do País, Ludhmila Hajjar, professora titular de Emergências da Faculdade de Medicina da USP e diretora da Cardiologia do Vila Nova Star, em São Paulo, e Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do InCor e diretor da Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, detalham as diferentes características da doença entre os dois sexos.
Na mulher é mais grave
Ludhmila Hajjar: “No homem o infarto ocorre sobretudo pelo rompimento de uma placa de gordura que leva a uma obstrução abrupta do fluxo sanguíneo no vaso coronariano. Mas na mulher, além da obstrução, outras doenças podem afetar o fluxo sanguíneo do coração. Por exemplo, doenças dos pequenos vasos, inflamação e dissecção (uma espécie de rasgo) das artérias coronárias. É como se o coração feminino fosse alvo de vários ataques. Essa é uma característica genética, a mulher tem cromossomos específicos que facilitam esse ataque”.
Elas infartam mais
Roberto Kalil: “Hoje em dia a incidência é praticamente a mesma em homens e mulheres. Há cinquenta anos, a cada dez mortes por infarto, nove eram homens e uma mulher. Hoje a proporção é de seis homens e quatro mulheres. Um dos maiores responsáveis pela mudança é o estilo de vida. Não me refiro somente ao fato de as mulheres terem passado a viver o impacto do estresse do mercado de trabalho, mas pela adoção de hábitos péssimos para o coração. Cigarro, pressão alta, diabetes, insônia, sedentarismo e obesidade estão entre eles. A mulher tem um risco três vezes mais alto de morrer do coração do que de câncer de mama, o tumor feminino mais prevalente entre elas, depois do tumor de pele”.
Elas infartam mais tarde
Hajjar: “Entre os homens, o infarto é mais comum entre os 50 e 60 anos. Na mulher, ocorre geralmente entre os 60 e 70 anos. Antes disso elas têm a proteção dos hormônios femininos. O estrogênio, por exemplo, tem função vasodilatadora, evita o acúmulo do LDL, o colesterol ruim, e facilita a ação do HDL, colesterol bom. Mas na menopausa o corpo sofre transformações que aumentam o risco de infarto que vão além da queda hormonal – acúmulo de gordura abdominal, aumento da resistência à insulina e maior predisposição à coagulação do sangue, estão entre eles. Esses fatores aumentam em 50% a probabilidade da mulher morrer de infarto, quando comparada aos homens”.
Elas demoram
Kalil: “As mulheres demoram para buscar ajuda médica porque simplesmente subestimam a dor e não acreditam que podem infartar. É mais fácil ela pensar que possa ser ansiedade, cansaço, TPM. Um estudo recente do Colégio Americano de Cardiologia mostrou que demoram 12 horas, em média, para procurar um serviço de saúde ou um profissional, a partir dos primeiros sinais de dor, mais que o dobro em relação aos homens. Quanto mais tarde o atendimento, maior o risco do problema se agravar. Infelizmente, a mulher com infarto tem uma chance maior de receber tratamentos inadequados ou tardios quando comparada aos homens. O cigarro, o diabetes e a pressão alta são muito mais danosos ao coração da mulher do que do homem”.
Sintomas são diferentes
Hajjar: “O quadro clínico clássico é o mais prevalente para os dois. É a dor no peito que dá a sensação de ter uma pata de cavalo pressionando. Essa sensação irradia para o braço esquerdo e dá náuseas e sudorese fria. Mas as mulheres também têm maior risco de ter sinais e sintomas atípicos inespecíficos. Muitas sentem apenas tontura, palpitação, dor no abdome, ou dor direcionada para o queixo. Não sabemos ao certo os motivos, possivelmente a apresentação diferente deva-se a fatores como o limiar da dor e sensações diferentes”.
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O Sul