Ao menos 19 linhagens diferentes da SARS-CoV-2 já foram identificadas circulando no Rio Grande do Sul, enquanto o Estado já registra mais de 584 mil casos e 11.355 mortos pela Covid-19. De acordo com o segundo boletim genômico, elaborado pela Vigilância do Estado, e divulgado nessa sexta-feira, as variantes foram registradas a partir de 318 amostras coletadas em indivíduos residentes de 94 dos 497 municípios gaúchos, à exceção de 19 exames sem registro de residência.
Os exames foram coletados entre 9 de março de 2020 e 02 de fevereiro de 2021, sendo 23 destas amostras de coletas deste ano. No primeiro boletim deste gênero divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), no início deste mês, foram identificadas 18 linhagens em 53 municípios diferentes.
A atualização do boletim ocorreu no mesmo dia em que o Estado confirmou a morte do primeiro paciente gaúcho infectado que estava infectado pela variante P1 – surgida no Amazonas e considerada de maior transmissibilidade. A vítima era residente de Gramado e tinha 88 anos.
Até então, a linhagem B.1.1.33 é a que mais prevalece no território gaúcho, seguida de B.1.1.28 e P2. No entanto, os dados estaduais mostram a prevalência desde novembro da variante P2.
Foi a B.1.1.28 que, após mutações, deu origem à variante P1, encontrada no Amazonas, e à P2, descrita pela primeira vez no Rio de Janeiro. Ambas são consideradas “variantes de preocupação” e apresentam modificações na proteína spike, estrutura do vírus que se conecta às células humanas. No caso da P1, há três mutações relacionadas à proteína (K417N, E484K e N501Y), e, na P2, uma mutação (E484K).
A maior variedade de linhagens por mês de coleta foi registrado em novembro, quando a SES identificou oito variantes em amostras coletadas, com ampla predominância de B.1.1.28 e P2. Em fevereiro, a prevalência permaneceu, mas reduziu para quatro o número de linhagens em exames realizados naquele mês.
De acordo com a pasta, o número de linhagens, bem como a classificação das mesmas, pode variar entre as diferentes edições do boletim genômico, devido a constante atualização dos dados e ferramentas. As amostras estudadas foram provenientes em sua maioria do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen-RS) e do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale. As sequências foram depositadas principalmente pela Fiocruz, Laboratório Nacional de Computação Científica e CEVS/SES-RS.
Aumento das análises na Serra gaúcha
Os técnicos do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) irão aumentar o número de análises em amostras de pacientes de coronavírus da região da Serra para buscar entender se a variante P1, detectada em um paciente de 88 anos que faleceu, representa um caso isolado ou se há transmissão comunitária.
As mutações de vírus são frequentes e não representam necessariamente uma alteração na ação do vírus. O objetivo é identificar os tipos em circulação para monitoramento e controle da transmissão, vacinação e tratamento. As mutações podem, por exemplo, alterar as características do vírus e impactar no quadro clínico e na resistência às vacinas.
“Precisamos tentar definir o caminho do vírus, e faremos isso a partir de amostras de pacientes da região da Serra que temos armazenadas. Ainda não sabemos qual a relação entre as variantes P1 e a P2, mais comum no nosso Estado, e se quem contraiu uma delas cria anticorpos também para a outra. Outra dúvida é como irá evoluir o cenário a partir da interação das duas variantes no mesmo ambiente”, explica a diretora do Cevs, Cynthia Molina-Bastos.
Rádio Guaíba