Segurança
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e o Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers) investigam dois médicos do Hospital São Francisco de Assis, na cidade de Parobé, no Vale do Paranhana.

Os profissionais, que não tiveram os nomes divulgados, foram indiciados pela Polícia Civil em agosto, por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), pela morte de um bebê de um mês. Segundo o delegado Francisco Leitão, a investigação concluiu que teria ocorrido erro médico e negligência. 

Bruna Gabriele Pinheiro, mãe do bebê e moradora de Taquara, cobra a responsabilização dos envolvidos.

— Eu só quero justiça. Eu segurei meu filho nos braços e pedi ajuda aos enfermeiros e médicos, todos me ignoraram até a manhã. Eu vi meu filho ir morrendo aos poucos e eu não podia fazer nada por ele. Uma mãe vendo um filho nessa situação, sem poder fazer nada. Uma criança que não conseguia nem pedir ajuda e dizer o que estava sentindo. — lamenta Bruna.

“Ficamos horas abandonados”

Segundo Bruna, o filho Benjamin Samuel Pinheiro Bellotto, carinhosamente chamado de Ben, foi um bebê saudável durante seu único mês de vida, sem nunca ter adoecido antes de 8 de abril.

Naquela madrugada, Bruna percebeu que o bebê tinha dificuldade para respirar e uma tosse forte. Ela o levou ao Hospital de Taquara, mas, sem pediatra disponível, foi encaminhada ao Hospital São Francisco de Assis, em Parobé.

De acordo com o relato da mãe, o primeiro médico que avaliou Benjamin, um clínico geral, disse que o quadro não era preocupante. Não teriam sido solicitados exames para investigar o estado da criança. 

Bruna relata que o médico estava tranquilo porque os sinais vitais do bebê pareciam bons. No entanto, durante a triagem, a enfermeira não teria conseguido medir o nível de oxigênio no sangue de Ben. Mesmo assim, teria registrado uma taxa normal, acreditando que o bebê estava bem.

A mãe conta que durante aquela madrugada viu o filho piorar enquanto pedia ajuda médica.

— Naquele dia a emergência estava tranquila, tinham tempo de ajudar meu bebê. Ficamos horas abandonados, sozinhos na sala de observação sem revisão de médico algum — lamenta Bruna. 

Bruna afirma ter pedido diversa vezes ajuda a enfermeiros, que até chegaram a chamar o médico. Este teria dito aos colegas que não teria o que fazer:

— Ele disse que era para eu me acalmar, que iria me colocar na sala de observação e dar uma medicação de conforto para o meu filho e logo iríamos embora.

O clínico foi embora e passou o caso para um segundo médico, que teria sido apresentado à mãe como o pediatra responsável pelo turno. 

— O segundo médico não foi ver o Ben porque o primeiro havia dito que ele estava bem, mas a essa hora ele já estava muito molenguinho e cansado, não abria os olhinhos mais — diz Bruna. 

Ajuda chegou tarde 

A ajuda só teria chegado às 7h, quando houve troca de turno e um terceiro médico entrou. Mesmo com a alta da criança já assinada, esse outro profissional decidiu avaliar o bebê antes de liberá-lo, e, segundo Bruna, logo notou que Benjamin estava em situação crítica:

— Assim que ele viu o estado em que meu filho estava, disse que era de extrema urgência, que era para terem o colocado no oxigênio e o levado para emergência assim que ele deu entrada, e que deveria ter sido acompanhado de perto. 

A mãe relata que, a partir deste momento, Benjamin recebeu antibióticos, corticoides e oxigênio, e fez diversos exames. O terceiro médico também pediu uma transferência de urgência para o menino ser entubado, já que em Parobé não havia vaga.

O plantonista da manhã contou à mãe que os sintomas do bebê eram característicos de vírus sincicial respiratório (VSR), doença que estaria aparecendo frequentemente naquela época em crianças pequenas e que pode ser letal. 

O menino foi encaminhado para o hospital de Venâncio Aires, onde, segundo a mãe, recebeu toda a atenção necessária. Mas, no dia seguinte à transferência, Benjamin morreu. 

Indignação

Após o falecimento, exames confirmaram o diagnóstico de VSR. 

— Eu sei que é uma doença muito grave, mas ele não precisava ter sofrido todo aquele tempo sem ajuda. Ele agonizou muito naquelas quatro horas. Não quero que esse seja um caso que vá para a gaveta. Não quero outras mães saindo do hospital com filhos mortos nos braços sem necessidade — diz a mãe.

Investigação

O Conselho Regional de Medicina informou em nota que “o Cremers tem uma sindicância em andamento sobre o caso, que corre em sigilo por força de lei”.

O Ministério Público emitiu nota em que “confirma o recebimento do inquérito policial e informa que o caso está sendo investigado. Sem prazo para conclusão e averiguando medidas a serem adotadas”.

Contraponto

O que diz o hospital de Parobé

Contatado pela reportagem, o Hospital São Francisco de Assim informou que não se manifestaria sobre o caso. 

Benjamin era o segundo filho de Bruna. Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

Até esta publicação, a reportagem não conseguiu localizar a defesa dos médicos investigados.

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