Os dois bombeiros que seguem desaparecidos após o incêndio que destruiu o prédio da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, são descritos pelos colegas como homens apaixonados pela profissão e obstinados por salvar vidas. Eles sumiram durante combate ao incêndio que começou na noite de quarta-feira (14).
Até o momento, as autoridades não divulgaram os nomes dos agentes, mas GZH confirmou tratar-se do tenente Deroci de Almeida da Costa, 46 anos, e do sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós, 51. Equipes de busca acreditam que eles ainda podem ser encontrados com vida entre os escombros.
O tenente Almeida, nome de guerra de Deroci, atuava na última noite como o oficial de serviço, o responsável por despachar viaturas para o combate ao incêndio na Capital. Casado e pai de dois filhos, o bombeiro está na corporação desde dezembro de 1998.
A major Cristiane Nunes de Oliveira, que faz parte da Associação dos Bombeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Abergs), disse que Almeida “veste a camiseta de bombeiro”.
— Incansável pelo trabalho da instituição. Uma pessoa que se pode contar sempre, nunca tem problema — destacou.
A oficial comenta que o tenente trabalhou por muitos anos na seção de Prevenção de Incêndio, responsável pelos Planos de Prevenção e Combate contra Incêndios (PPCI)
á o sargento Munhós está na corporação desde 1990 e, atualmente, trabalha na Divisão de Logística e Patrimônio do Corpo de Bombeiros, junto ao Comando-Geral. Mesmo com tempo de serviço para estar aposentado, segue na ativa. Na noite do incêndio, de folga, decidiu ir para o local ajudar mesmo assim.
A filha única do sargento contou que ele já estava se preparando para dormir quando soube do incêndio. No grupo de sua família no WhatsApp, avisou que estava saindo porque os colegas precisavam dele. Parentes estão apreensivos e sem notícias desde a última noite.
— Tu vai voltar para casa, pai, tu vai — disse a filha, a estudante de enfermagem Mariana Munhós, 21 anos, em uma rede social.
Munhós recebeu a medalha de ouro de serviços prestados em 2020, pelo comando dos Bombeiros, por sua trajetória na corporação. Em 2009, foi entrevistado pelo Diário Gaúcho após ajudar a retirar um carro que caiu no Arroio Dilúvio. À época, contou que era preciso “gostar muito” da profissão para fazer tarefas como aquela.
O cunhado de Munhós também é bombeiro e decidiu ingressar na corporação após admirar o trabalho do familiar. Na manhã desta quinta-feira (15), o parente auxiliava os demais bombeiros na esperança de encontrá-lo com vida.
A major Cristiane também trabalhou com o sargento.
— É um profissional extremamente dedicado. Isso fica claro quando recordamos que veio ao local do incêndio mesmo de folga — frisou a colega.
Coordenador-geral da Abergs, o tenente-coronel Ederson Carlos Franco Da Silva conta que a associação está auxiliando as equipes, entregando lanches para alimentar os servidores, que desde quarta à noite estão combatendo as chamas.
— Estamos em oração e aguardando. Mantemos o pensamento positivo. A gente nunca esmorece ou procura se resignar. Estamos com a atitude positiva assim como as guarnições que estão trabalhando — complementou.
De acordo com bombeiros que trabalham nas buscas, duas equipes entraram no prédio em chamas no início do incêndio, com o objetivo de tentar combatê-lo em sua origem. Uma delas conseguiu sair, mas o tenente Almeida e o sargento Munhós não foram vistos mais na parte de fora.
O comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel César Eduardo Bonfanti, disse em coletiva de imprensa que acredita que os dois militares ficaram presos no momento em que o prédio começou a apresentar rachaduras.
— Quando começa com situações de rachadura, é importante o recuo dessas equipes (de dentro do prédio) e talvez elas não tiveram a oportunidade de sair em determinado momento. É bem provável que isso tenha acontecido — explicou.
Gaúcha ZH