Já pensou ter acesso irrestrito a um remédio gratuito que melhora, simultaneamente, a autoestima, o humor e ainda rejuvenesce? Pois esse é o efeito de uma vida sexual saudável e ativa, garante a psicóloga e sexóloga Lúcia Pesca (@psicoluciapesca).
Para marcar o Dia do Orgasmo, neste sábado (31), conversamos com a especialista em relacionamentos e sexualidade para responder às principais dúvidas femininas sobre o tema. Pensando nas dificuldades que muitas encontram em manter o desejo em alta com o passar dos anos, a terapeuta também compartilha dicas para as mulheres que não querem deixar o prazer sexual de lado na maturidade.
Qual a diferença entre libido e excitação?
Libido e desejo sexual são a mesma coisa. É tudo aquilo que nos move a ter intenção de sexo. E excitação é a resposta fisiológica e psicológica a todos esses estímulos sexuais, sejam eles por toque, por leitura, por algo que se ouve. As mulheres ficam mais excitadas com estímulos auditivos, por isso o sucesso hoje em dia dos podcasts eróticos.
A libido diminui conforme ficamos mais velhas?
Sim, por vários fatores, principalmente fisiológicos, como os hormônios. É importante dizer que mulheres que tiveram uma vida sexual regular durante a vida inteira – não frequente, mas regular – vão sentir menos o problema da falta de libido quando ficarem mais velhas. Ou seja, vai diminuir? Vai, sim, pelas questões físicas. Mas o hábito da vida sexual vai fazer com que, depois da menopausa, elas consigam ainda ter essa vontade.
Como manter o desejo em alta?
A mulher não foi acostumada, por educação e por hábito, a desfrutar das benesses da vida sexual. Na terapia sexual, a forma com que trabalhamos para que as mulheres consigam permanecer interessadas por sexo é basicamente se autoestimular, ou seja, masturbação. Depois, ouvirem coisas que excitem. Os homens são mais visuais – então, para eles, os filmes pornôs, por exemplo, são positivos. As mulheres precisam de coisas que elas ouçam. A leitura também: tudo que elas possam ler sobre erotismo, como poemas, artigos eróticos, cada uma no contexto de leitura do que gosta, acaba excitando mais. A mulher não precisa trabalhar somente o sexo em si. A excitação e o desejo dela estão na cabeça.
“Mulheres que durante a vida inteira tiveram uma vida sexual regular vão sentir menos o problema da falta de libido quando ficarem mais velhas”
LÚCIA PESCA
psicóloga e sexóloga
É normal não atingir o orgasmo com penetração? Nesses casos, o que a mulher pode fazer pra chegar lá?
Pesquisas nacionais já mostraram que um terço das mulheres nunca tiveram um orgasmo. De 18% a 20% delas não conseguem orgasmo durante a penetração, porque lá dentro não tem nada que vai dar prazer. “Ah, mas tem o ponto G, Y, D”. Toda mulher pode ter esse ponto, mas cada uma tem o seu diferente. Quem gosta de penetração é homem.
É normal não ter orgasmo na relação, mas mesmo assim gostar do momento? Isso pode, de alguma forma, fazer com que a mulher perca a vontade de transar?
A resposta sexual da mulher é diferente do homem. Eles precisam ter desejo para poder entrar em uma relação sexual. As mulheres, não. Através da (psiquiatra canadense) Rosemary Basson, uma pesquisa mostrou que muitas mulheres relatavam (situações do tipo): “Não estava a fim, mas entrei na relação porque gosto dele, porque fazia horas que a gente não transava, porque me lembrei da última vez que transei”. A partir daí, vão se excitar. Depois que ela “pega no tranco”, como digo, vem o desejo. Ela primeiro vai se excitar para depois ter desejo, e aí pode chegar ou não ao orgasmo, que não é tão importante quanto o prazer que sentiu durante a relação.
Como propor ao parceiro algo diferente na hora a dois?
Se esse casal não teve o hábito da comunicação íntima, torna-se mais difícil falar sobre isso quando ficam mais velhos juntos. É importante trabalhar esse constrangimento e não ficar pensando: “Ah, ele me conhece há tantos anos, deve saber do que gosto”. Nem você sabe o que gosta, porque o corpo mudou, a cabeça mudou. A mulher tem que descobrir o que gosta sexualmente e orientar o homem.
Que dúvida é mais comum entre suas pacientes com mais de 60 anos?
Seja ela casada ou solteira, as dúvidas são, basicamente, sobre como aperfeiçoar a vida sexual. O que posso mudar, o que posso fazer de diferente para me sentir mais solta, mais leve, mais livre durante o ato sexual? É importante saber que a terapia sexual não serve somente para resolver problemas ou disfunções sexuais. Também serve para aperfeiçoar, tornar diferente ou melhor (a vida sexual), e meu consultório tem cada vez mais esse tipo de demanda. Muitas vezes, as mulheres dizem: “Sexo tem que ser natural, não tem que ser aprendido”. Tem que ser aprendido, sim. Mulheres inteligentes estão procurando a terapia sexual para essas dicas.
Como manter uma vida sexual ativa na maturidade?
O básico é a comunicação. No momento em que o casal conversa, ela consegue orientar o parceiro e, com isso, não tem tantos conflitos durante o sexo. Outra coisa é tentar diminuir o nível da expectativa. Quanto mais expectativas tiver em relação ao parceiro, maior a frustração. Além disso, (é importante) o autoconhecimento. Se a mulher não se ligou em conhecer suas zonas erógenas até então, a liberdade sexual desse momento vai ajudá-la. Mulheres solteiras que estão com novos parceiros podem ter um pouco mais de constrangimento, e aí eu diria: cuidado com os preconceitos em relação às suas transformações de corpo – e de cabeça também. Primeiro trate isso para depois conquistar alguém.
Como manter uma vida sexual ativa e saudável após anos de casamento?
- A vida sexual não acaba depois dos 60 anos
— Muitas mulheres falam: “Ainda bem que estou na menopausa e ele na andropausa, a gente não precisa mais transar”. Acham que com isso elas “se livram”. Não é bom se livrar. É importante manter a vida sexual ativa porque melhora a autoestima, o humor, o pensamento e rejuvenesce — garante Lúcia. — Uma vida sexual regular desenvolve feromonas, que fazem a gente se sentir mais bonita, mais interessante. Para nós mesmas, não para os outros.
- Aceite as mudanças do seu corpo
— Se a mulher não aceita, também não está aceitando a idade, o que vai perturbar o desenvolvimento e o tesão dela — explica Lúcia.
- Aposte em lubrificantes
Para resolver a questão da diminuição da lubrificação e da elasticidade da vagina, a dica é usar lubrificante sempre, mesmo se você estiver excitada:
— Ela está muito lubrificada no início da relação, mas logo começa a diminuir. Usar lubrificante é fundamental — afirma a sexóloga, que indica o uso de óleo de coco, mais natural que os lubrificantes industriais.
- Faça exercícios de musculatura
Os exercícios de kegel, também chamados de pompoarismo, são movimentos de contração para fortalecer a musculatura vaginal e combater a flacidez. A sexóloga afirma que trabalhar o assoalho pélvico, seja sozinha com atividades diárias ou com a ajuda de fisioterapia, é essencial.
- Não tenha vergonha de usar brinquedos e acessórios
— O sexo é uma brincadeira de adulto. É muito gostoso em função de tudo que traz. Vai em uma sexshop, procura acessórios sexuais, ou algumas roupas que gerem estímulo para os dois. Não só para o homem ao ver a mulher, mas para você ao vestir e se olhar no espelho — aconselha.
GZH