Sexo
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Você provavelmente já ouviu por aí que os homens gostam mais de sexo do que as mulheres. Talvez, inclusive, acredite nesta afirmação. Mas, afinal, eles sentem mesmo mais tesão? A urologista Karin Jaeger Anzolch, vice-presidente  da Sociedade Brasileira de Urologia – Seção RS, afirma que, embora existam argumentos biológicos (e antropológicos, como veremos nesta reportagem) para se ter criado esse mito, na realidade, a questão não encontra base científica sólida que os justifiquem.

Do ponto de vista biológico, desde o período pré-histórico era o homem que precisava  correr atrás de parceiras para manter relações e, assim, garantir a sobrevivência da espécie. Além disso, a testosterona, considerada o principal hormônio ligado ao desejo sexual em ambos os gêneros, é o mais característico hormônio masculino. Já pelo viés cultural, é sabido que o homem é mais cobrado do que a mulher para se mostrar sempre “pronto e apto” para o sexo. Por esses motivos, tanta gente acredita que é natural que eles sintam mais vontade de transar do que elas. Mas, como explicam as especialistas consultadas por Donna, não é bem assim que acontece.

— Como urologista, e atendendo a ambos os sexos, com frequência esses temas vêm à tona, e percebemos que, na verdade, o desejo sexual varia muito de pessoa para pessoa — pontua a médica Karin.

A ginecologista e sexóloga Sandra Scalco é categórica ao afirmar: sim, é mito a ideia de que o homem gosta de transar todos os dias e a mulher não, por exemplo.

— Não é gênero-dependente, depende de cada indivíduo. Agora, é bem incomum que eles realmente tenham vontade todos os dias. Existe um mito em relação a isso. Eu brinco que, se perguntar, eles vão dizer que sim. Mas, se apertar um pouquinho, vão admitir: na verdade, já seria bom uma, duas ou três vezes na semana — argumenta.

Estímulo visual

Uma questão importante (e que a indústria pornográfica conhece há bastante tempo) é que grande parte dos homens encontra no estímulo visual o seu fator excitador mais relevante – enquanto, para boa parte das mulheres, a inspiração costuma vir de outros sentidos e percepções menos explícitos. Para elas, por exemplo, experiências prévias e ligações afetivas com o(a) companheiro(a) atual ou com outros parceiros têm papel importante, lembra a urologista.

Outro aspecto que precisa ser levado em consideração é que a representação do sexo é diferente para homens e mulheres.

— A mulher tem uma estimulação muito mais a nível de pensamento, ela começa a pensar sobre sexo. Se o dia da mulher foi estressante, vai ser um processo um pouco mais longo para que ela esteja com o desejo mais aguçado e tenha vontade de transar — explica a psicóloga e terapeuta de casais Emmanuelle Camarotti.

Por isso, pode ser que ela demore mais para entrar no clima – e aí vai precisar da ajuda do parceiro(a), como em uma sessão de preliminares. A psicóloga ainda reforça que o homem pensa no sexo a partir de imagens, enquanto a mulher começa a ter desejo a partir de “sensações, cheiros e toques”. Por ser um processo diferente, por vezes se banaliza ao afirmar que “o homem pensa mais em sexo do que a mulher”. De certa forma, a afirmação é verdadeira, se considerarmos a sobrecarga mental da mulher em relação às tarefas domésticas, por exemplo.

— O espaço para a mulher pensar no sexo, ter pensamento erótico, é muito pequeno, porque está concorrendo com a rotina. Não que para o homem não seja assim, mas a gente sabe que, na prática, a mulher acaba se ocupando muito mais do cuidado com a casa e com os filhos, por exemplo. Isso também faz com que ela se conecte pouco com o seu corpo, com o seu prazer e com a sua própria sexualidade — afirma a psicóloga.

Repressão feminina

Outra questão (bem) relevante é que, culturalmente, apesar dos avanços, as mulheres ainda são mais reprimidas sexualmente, muitas vezes aprendendo desde cedo a ocultar e sublimar os seus desejos, deslocando-os para outros focos de atenção. A ginecologista e sexóloga ainda ressalta que algumas mulheres, por questões de gênero, falta de educação sexual ou repressão, não costumam priorizar o sexo em sua vida.

— Ou até podem falar que priorizam, mas não executam movimentos proativos nesse sentido — observa.

O que pode corroborar com este comportamento é o fato de que muitas mulheres não têm desejo espontâneo, explica Sandra. No caso da ala feminina, elas podem ficar mais excitadas na medida em que se engajam em uma cena sexual e são estimuladas pelo parceiro(a).

 — Quando elas atingem um nível de excitação mediano, começam a ter desejo, relaxamento e excitação, tudo associado. É diferente do desejo espontâneo — esclarece.

Do ponto de vista hormonal, os homens têm mais testosterona, então potencialmente têm um pouco mais de desejo espontâneo, além de serem mais estimulados do ponto de vista cultural, diz Sandra.

— Parece que a configuração de ter que ter desejo espontâneo é a clássica. Então, às vezes, replicamos o modelo masculino na concepção do desejo — compara.

GZH