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Cidades no Rio Grande do Sul ficaram alagadas. Foto: Reprodução

As cidades do Rio Grande do Sul estão enfrentando, nas últimas semanas, um volume de chuva até dez vezes superior à média histórica, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O período considerado para análise da Folha de S.Paulo foi de 25 de abril a 14 de maio, destacando um cenário preocupante em relação às condições climáticas e suas consequências para a população local.

Das 45 estações pluviométricas analisadas no estado, 44 registraram aumento no volume de chuva comparado ao mesmo período de anos anteriores. A única exceção foi Uruguaiana. Em 42 dessas estações, as chuvas de 2024 foram o dobro ou mais da média histórica.

O caso mais extremo foi em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, onde a média diária de chuva foi de 45 milímetros, 11 vezes superior à média histórica de 4,09 mm registrada entre 1961 e 2023. Este valor superou todos os recordes anteriores, incluindo o de 9,44 mm de 2022.

Além de Caxias do Sul, cidades como Bento Gonçalves, Santa Maria, Canela e Soledade também registraram volumes de chuva significativamente acima da média histórica. Essas cidades estão situadas na bacia hidrográfica dos rios que deságuam no lago Guaíba, exceto Santa Maria, que não está na Serra Gaúcha.

A cidade de Eldorado do Sul (RS) teve 98% de seu território inundado. Foto: Getty Images

Os dados mostram que Caxias teve uma média de 44,98 mm de chuva por dia, Bento Gonçalves 41,82 mm, Canela 41,56 mm, Serafina Correa 38,13 mm e Soledade 37,4 mm. Caxias do Sul registrou oito óbitos devido às chuvas, além de uma pessoa desaparecida.

Apesar do alto volume de chuva, Caxias do Sul conseguiu evitar inundações graves na área urbana, graças a uma estrutura de piscinões que ajuda no escoamento da água. Contudo, 70% dos danos foram registrados em áreas rurais e encostas, com risco de desmoronamento em várias regiões. Em Galópolis, por exemplo, 220 famílias tiveram que ser evacuadas devido ao risco de deslizamentos.

O relevo da Serra Gaúcha desempenha um papel importante na gestão das águas pluviais. A inclinação dos rios facilita o escoamento da água, mitigando os efeitos das enchentes.

Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, explicou que a água das chuvas nas áreas serranas é parcialmente absorvida pelo solo, com o excedente fluindo para regiões mais baixas. Isso explica a rápida subida do lago Guaíba, que atingiu 5,33 m no dia 5 de maio, o maior nível desde 1941.

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu um alerta para a continuidade da elevação dos níveis da lagoa dos Patos, onde a água do Guaíba escoa. O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) prevê uma cheia duradoura, com redução lenta dos níveis do Guaíba abaixo dos 5 metros.

Pegorim também ressaltou a importância de não ocupar áreas naturais de alagamento dos rios. “As cidades não podem ocupar a área natural de alagação do rio quando transborda”, alertou a meteorologista, ressaltando a necessidade de planejamento urbano adequado para prevenir desastres futuros.

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DCM