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Foto: Liane Castilhos

Como a onda de frio que está vindo se compara a outras grandes deste século? Massa de ar polar de muito forte intensidade ingressará no território brasileiro entre a terça-feira (27) e a quarta (28), provocando queda muito drástica da temperatura e trazendo frio com valores extremos e pouco freqüentes de se observar em algumas estações na segunda metade da semna.

Esta terceira intensa massa de ar polar deste inverno vai alcançar o Sul, o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil com mínimas negativas em estações meteorológicas de ao menos sete estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro (Itatiaia), e São Paulo.

No Sul do Brasil, marcas tão baixas quanto -9ºC a -11ºC são possíveis nas partes mais altas da região neste evento de frio. Em muitos locais, porém não em todos, o frio será mais intenso neste episódio que nas ondas de frio do fim de julho e da semana que está terminando.

A tendência é de mais uma vez se registrar um episódio de geada ampla no Centro-Sul do país, sobretudo na sexta (20), e é alto o risco de geada negra por ação do vento que trará sensações térmicas congelantes e, no caso de áreas de maior altitude do Rio Grande do Sul e Santa Catarina até com valores perigosos que podem atingir de -10ºC a -20ºC.

Esta será uma das massas de ar polar mais fortes a alcançar o Brasil neste século devido a sua grande magnitude, porém não será a pior porque numa média geral das condições previstas (mínimas baixas, máximas baixas, geada e neve) não superará alguns eventos de frio muito intenso e neve dos últimos 20 anos.

As mínimas em muito locais alcançadas nos anos 2000, 2007, 2009, 2011 e 2013 não seriam superadas nesta onda de frio por chegar, mas o episódio gelado a caminho entrará no ranking das menores mínimas dos últimos 20 anos em diversas cidades.

Será a terceira massa de ar frio de origem polar de grande intensidade em apenas um mês no Brasil, o que é pouco comum, e as conseqüências econômicas já graves impostas pela temperatura baixa e geada nos dois primeiros episódios gelados tendem a agravar ainda mais as perdas registradas no campo com impacto em milho, cana de açúcar, café, e o setor hortifrutigranjeiro.

Os cálculos das perdas neste último evento de frio ainda estão sendo feitos, mas não será surpresa se as perdas na soma destes três episódios gelados, os dois ocorridos e o que está por vir, alcancem bilhões de reais no setor primário.

CADA ONDA DE FRIO TEM SUA “IMPRESSÃO DIGITAL”

Nenhuma onda de frio é igual a outra, o que torna difícil comparações, mas uma média das condições de temperatura e fenômenos invernais associados permite uma avaliação da magnitude de cada evento de frio extremo que chega ao Centro e ao Sul do Brasil.

Cada onda de frio, na prática, tem as suas próprias “impressões digitais” numa analogia. Nenhum evento extremo de frio é idêntico ao outro e em cada episódio algumas áreas são mais castigadas que outras. Houve eventos em que o frio quebrou recordes em um grande número de locais, mas em outros em apenas algumas regiões.

A onda de frio recente do final de junho, por exemplo, trouxe geada para pontos do Mato Grosso em que não geava desde a histórica onda de frio de 1975, mas as consequência do frio de junho foram muitíssimo menos graves na agricultura que 46 anos atrás.

O evento de junho ainda provocou ocorrência de neve por três dias seguidos no Sul do Brasil, o que não ocorria desde julho de 2000, a despeito de ter nevado muito menos que nas ondas polares de julho e agosto de 2013. No Morro da Igreja, em Santa Catarina, ocorreu a menor mínima para junho em uma década e meia de dados com -7,5ºC.

A onda de frio desta semana agora trouxe a pior geada em algumas áreas de café desde o episódio gelado de julho de 1994, mas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina a neve foi pouca e não chegou a ter grandes acumulações a ponto de fechar rodovias como se viu em 1994.

O frio desta semana, ademais, trouxe as menores mínimas em algumas cidades do interior de São Paulo em 10 a 15 anos ao passo que no Sul do país não causou marcas muito distantes das observadas nos últimos anos.

A GRANDE ONDA DE FRIO DE 2012 CHEIA DE RECORDES

A onda de frio da próxima semana não superará em intensidade, como exemplo, o evento gelado de 2012. Este foi um episódio, em particular, de frio muito extremo no Sul do país. Várias estações que possuem séries históricas de apenas duas décadas têm na onda de frio de 2012 as suas menores mínimas absolutas até hoje, caso de Santa Rosa, no Noroeste do Rio Grande do Sul.

Estações com histórico longo, de até um século de dados, tiveram marcas históricas na onda de frio de 2012. Em Torres, a mínima de -0,2°C na onda de frio de 2012 foi a menor temperatura registrada na cidade desde o começo do monitoramento pelo Inmet em 1913, superando inclusive registros antigos da estação convencional da cidade.

Em Cruz Alta, a marca de -4,8°C registrada pela estação automática foi o menor registro na cidade desde o início do monitoramento do Inmet, em dados da própria automática e da estação convencional. Em Passo Fundo os -2,6°C da estação automática fora à época a menor temperatura registrada na mesma desde os -3,2°C de 25 de julho de 2009. A mínima de 2012 de -4,0°C em São Gabriel foi a menor desde a instalação da mesma em 2007.

Na fronteira com o Uruguai, a estação automática de Quaraí apontou -6,3°C em 2012, o menor registro então desde sua instalação em 2007, superando os -5°C registrados em 4 de julho de 2011. Em Uruguaiana, a automática apontou -3,3°C que foi a sua menor temperatura desde a instalação desta em 2006.

Frio extremo com muitas marcas históricas ganhou a capa dos jornais em 2012 | Diário de Santa Maria e Jornal NH/Reprodução/Arquivo

 mínima em 2012 bateu os -3,2°C registrados por estação convencional em 14 de julho de 2000. Em Alegrete, a mínima registrada pela automática em 2012 foi de -3,8°C, a menor temperatura registrada na cidade desde 17 de julho 1971, quando fez -4,1°C em registro de estação convencional.

No extremo Sul gaúcho, a automática do Chuí apontou -1,4°C, menor temperatura até então desde a instalação da estação. Em Rio Grande, a mínima de -0,5°C em 2012 foi a menor temperatura desde a instalação da estação automática em 2007 e a segunda menor temperatura já registrada na cidade, só atrás dos -0,6°C aferidos em 30 de julho de 2009, em 10 de julho de 1945 e 2 de junho de 1925.

Na área central do Estado, a mínima de 0,2ºC abaixo de zero em Rio Pardo, foi a menor desde os -0,5°C de 26 de julho de 2009. Em Santa Maria, a marca de -1,8°C de 2012 foi a menor registrada pela automática desde 25 de julho de 2009, quando fez -2,1°C.

Na Serra, Bom Jesus teve -4,2°C no dia 7 de junho, o menor registro da convencional desde os -5,0°C registrados em 25 de julho de 2009. A vizinha São José dos Ausentes que conta com estação automática desde 2007 teve -5,5°C, a menor então desde a instalação do ponto de medição.

2013 TEVE A MAIOR NEVADA DESDE 1994

O inverno de 2013 teve duas ondas polares com grande quantidade de neve, uma no mês de julho e outra em agosto. Nevou nos três estados do Sul nos dois episódios. O evento de julho trouxe neve para mais de uma centena de municípios de Santa Catarina e do Paraná e chegou a cair neve em ponto de Curitiba.

A acumulação marcou o evento com muitos municípios catarinenses e paranaenses que ficaram brancos. Os morros da Grande Florianópolis tiveram seus cumes nevados, oferecendo uma paisagem única.

Picos nevados na Grande Florianópolis na histórica nevada de 2013 | Diário Catarinense/Reprodução/Arquivo

Já em agosto a neve foi mais forte na Serra Gaúcha e nos Campos de Cima da Serra. A grande quantidade de neve que caiu permitiu que houvesse acumulação e o Nordeste do Rio Grande do Sul se pintou de branco. Foi a maior nevada deste século no Rio Grande do Sul e a de maior acumulação desde julho de 1994.

Os dados indicam neve nesta onda de frio para os três estados do Sul, entretanto hoje os modelos numéricos não sinalizam a possibilidade de que haja um evento de neve com tamanha dimensão como nos dois eventos do inverno de 2013.

O FRIO EM PORTO ALEGRE E REGIÃO

A onda de frio vai trazer muito intenso para Porto Alegre e região metropolitana com a previsão de mínima de 2ºC ou 3ºC na estação de referência histórica da Capital, mantida pelo Instituto Nacional de Meteorologia no Jardim Botânico. Estes valores previstos pela MetSul para esta onda de frio, entretanto, não superam marcas de ondas de frio passadas deste século.

Porto Alegre ter mínimas oficiais na estação do Inmet na casa de 0ºC é pouco comum. Isso não deve ocorrer nesta onda de frio, mas se verificou em quatro ondas polares deste século.

Os termômetros indicaram 0,0ºC em 14 de julho de 2000, 0,4ºC em 12 de julho de 2007, 0,0ºC em 25 de julho de 2009 e 0,9ºC em 9 de junho de 2012.

Em 2012, a onda de frio fez com que a cidade de Campo Bom, que conta com uma estação do Inmet desde 1984, tivesse -1,8°C e igualasse as mínimas absolutas de 14/7/2000 e 25/07/2009.

MetSul