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Foto: Mateus Bruxel

O fenômeno climático El Niño tem alta probabilidade de começar neste inverno e trazer chuvas intensas e calor para o Rio Grande do Sul a partir da primavera, segundo especialistas ouvidos por GZH. Há 62% de chances do evento começar até o fim de julho, de acordo com estimativas publicadas pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (Noaa) dos Estados Unidos, agência que é referência para meteorologistas. O mais recente relatório do órgão saiu nesta segunda-feira (1).

O El Niño é caracterizado por semanas de temperaturas a 0,5°C acima da média para o Oceano Pacífico equatorial, enquanto o La Niña, que vigorou nos últimos três anos e causou estiagem no RS, é -0,5°C abaixo desse índice. Entre outras repercussões climáticas, essas águas mais quentes intensificam as chuvas e o calor na região sul do Brasil. As estimativas da agência norte-americana mostram alta probabilidade de que o fenômeno se inicie ainda neste inverno, com chances crescentes até setembro.

Atualmente, os padrões climáticos apontam para um cenário de neutralidade, com uma transição do La Niña para o El Niño. Desde fevereiro, o mar passa por um processo de aquecimento que tem se intensificado, mas como anomalias de calor têm se tornado mais comuns no oceano por conta das mudanças climáticas, ainda não é possível determinar se isso prenuncia um El Niño mais forte, explica o climatologista Francisco Aquino, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

— Isso ajuda a confundir quando você se encaminha para um evento como o El Niño, em que você olha o oceano e já se viam áreas anomalamente mais quentes. Pela época do ano, outono, é difícil os modelos fazerem uma previsão antecipada corretamente — diz o climatologista.

Na avaliação do professor, a chegada do fenômeno não deve se reverter em precipitações mais intensas ainda neste inverno, mas a tendência é que os impactos sejam sentidos na primavera. Ou seja, frentes frias, granizo e chuvas intensas, com a possibilidade de eventos extremos, caso a expectativa de um El Niño forte se confirme.

Chuvas impactam no agronegócio

Entre os efeitos do El Niño para o sul do Brasil estão temperaturas e precipitações acima da média. A tendência é que o fenômeno deste ano seja justamente mais intenso, com elevação do calor e da chuva nesta primavera, na avaliação da meteorologista Eliana Klering, professora da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

De acordo com Eliana, esse cenário pode impactar negativamente o agronegócio gaúcho ao prejudicar a colheita dos cereais de inverno, como trigo e aveia, e atrasar a semeadura das culturas de verão, como soja e milho, ambos realizados durante a primavera.

— Os cereais de inverno acabam prejudicados justamente na época da colheita, tanto para as máquinas colherem os grãos, quanto a qualidade que acaba prejudicada pelo alto teor de umidade. Torna o trigo, por exemplo, impróprio para a panificação e ele acaba indo para a alimentação animal. Além disso, afeta o preparo do solo das culturas de verão, que fica muito úmido, as máquinas não acessam e isso atrasa a semeadura — explica a meteorologista.

Como o El Niño leva ao aquecimento das águas do Pacífico equatorial, há uma mudança na dinâmica dos ventos que, no sul brasileiro, reduz a velocidade de deslocamento de frentes frias, que é o que causa uma maior nebulosidade e precipitação, segundo Eliana. As previsões, no entanto, ainda não são capazes de dar panoramas certeiros para o verão de 2024, mas a tendência é que a intensidade do calor e das chuvas reduzam, conforme o aquecimento do Oceano Pacifício estabiliza.

Confira as probabilidades para o início do El Niño, segundo o Noaa

As estimativas apresentadas pelo Noaa consideram as probabilidades para uma série de trimestres e levam em conta dados consolidados em 13 de abril, de acordo com o último relatório da agência. As chances para o começo do fenômeno climático se intensificam neste inverno (entre julho e fim de setembro) e atingem quase 90% até o fim do ano.

Maio a julho: 62%

Junho a agosto: 75%

Julho a setembro: 80%

Agosto a outubro: 82%

Setembro a novembro: 84%

Outubro a dezembro: 86%

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