Nas correntes de WhatsApp as gravações são alarmantes. Entendidos em clima – e alguns, nem tanto – alardeiam que o frio que irá se abater sobre o sul do Brasil nos próximos dias é o mais intenso em seis décadas. Outros pseudoespecialistas falam em uma mini-Era Glacial. Segundo meteorologistas ouvidos por GZH, a massa de ar polar que vem aí será forte, mas nada indica que vá quebrar recordes em intensidade.
O frio será antecedido por chuvarada. Uma frente fria avança na segunda-feira (26) e provoca chuva por praticamente todo o Rio Grande do Sul. O tempo instável predomina até terça-feira, intercalado com períodos de céu bastante nublado. Na Campanha e região sul, os volumes de chuva tendem a ser mais elevados, inclusive com ventos com velocidade de até 50 km/h. Somente no extremo norte e Campos de Cima da Serra o tempo firme predomina.
O calor que marcou o fim de semana terá fim com a chegada da chuva. Já na terça-feira o veranico de julho acaba e as mínimas serão típicas de inverno, variando de 5º C (na fronteira oeste) a 7º C (na Capital).
Na quarta-feira, a chegada de uma nova massa de ar frio volta a despencar as temperaturas por todo o Rio Grande do Sul e, mais uma vez, há previsão de geada ampla em praticamente todo o Estado, com exceção do Litoral. A entrada de umidade favorece a ocorrência de neve nos Campos de Cima da Serra, no período da noite. A partir de quinta-feira, algumas áreas de instabilidade trazem umidade para o extremo norte e Serra. Associada às baixas temperaturas, ela favorece a formação de nuvens carregadas e queda de neve. Essa precipitação invernal pode ocorrer já na madrugada e persistir durante a manhã e tarde. Nas demais áreas do o frio também predomina, e há previsão de geada na faixa oeste gaúcha.
Em Porto Alegre, a sensação de frio aumenta, e o tempo fica bastante nublado. As mínimas no Estado podem ficar abaixo de – 2º C.
O frio deve ser ainda mais intenso em Santa Catarina, com mínimas inferiores a – 4º C.
Isso é recorde? Nada indica rompimento de parâmetros, analisa a meteorologista Cátia Valente, que atua na Defesa Civil do Rio Grande do Sul e na rede Somar.
— Teremos muito frio, característico de um inverno típico. É que nos últimos anos tivemos invernos amenos. Será algo excepcional? Nada aponta isso. Tivemos frios intensos em 2013 e 2011, talvez chegue próximo a isso. Não creio que seja a mini Era do Gelo ou algum evento extraordinário dos últimos 60 anos, como foi cogitado por alguns.
O meteorologista Vagner Anabor, do Grupo de Modelagem Atmosférica da Universidade Federal de Santa Maria (GruMA), encara com estranheza os boatos sobre quebra de recordes de frio. Ele confirma que será uma semana gelada, temperada com umidade capaz de gerar neve, mas nada que fuja muito ao que ocorreu ainda neste inverno e em outros.
— Teremos máximas abaixo de 10º, o que representa bastante frio. E um ciclone extratropical entre terça e quarta-feira, que pode criar condições para neve. De quinta-feira em diante vai se formar geada. Mas anunciar temperaturas glaciais é gritar gol quando o goleiro ainda está cobrando tiro de meta, não sei de onde tiram essas informações — afirma Anabor.
O meteorologista Daniel Caetano Santos, que também atua na UFSM (no curso universitário), diz que a massa de ar polar não deve ser diferente de outras que acontecem no inverno.
— Só que será bem persistente, o frio não perderá força de forma rápida. Tivemos essa situação tempos atrás e vai ocorrer de novo. Estamos impressionados com os exageros divulgados — comenta.
O meteorologista Marcelo Schneider, do 7º Distrito de Meteorologia (São Paulo), diz que a friagem será muito intensa na semana, mas tampouco acredita em recordes. Ele diz que o Sul vivenciou climas semelhantes ao que ocorrerá em 1965, 1975, 2000 e 2013, para ficar em alguns exemplos.
— Terá todos os elementos de inverno e serão uns quatro dias intensos — sintetiza.
GZH