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Foto: Camila Hermes / Agencia RBS

Relatos que lembram cenas de filme traduzem bem o desespero vivido por famílias de Agudo, na região central do Estado, em meio a deslizamentos de terra e enchentes. Oito dias após o desastre que varreu áreas rurais, isolou famílias e provocou danos ainda incalculáveis em estradas e lavouras, depoimentos acerca dos eventos emocionam quem viveu aquilo. 

Na Linha São Pedro, região de encosta, deslizamentos destruíram casas no início da tarde da terça-feira da semana passada (30). A família do agricultor Vilson D’Ávila repousava após o almoço quando foi surpreendida pelo forte impacto da massa de terra e vegetação. Apesar do susto, conseguiram sair e avançar para uma parte mais alta do morro, até Linha Branca. No caminho foram ajudando a socorrer outras pessoas. O grupo reuniu quase 40 moradores, entre eles idosos com problema de locomoção e crianças. Em alguns momentos, tiveram de rastejar no lodo e em meio a espinhos seis quilômetros acima.

— Conseguimos algumas lonas para cobrir as crianças e elas não morrerem de frio. Teve gente que ficou dois dias sem comer — descreve o agricultor.

Também na mesma região, outro morador viveu momentos de horror ao ser soterrado por uma casa.

— Caiu uma casa em cima de mim e fiquei prensado em uma geladeira. Tive que quebrar uma telha com a mão para sair — narra Adalberto Wiedmann, morador da Linha São Pedro.

O grupo ficou abrigado na propriedade rural de um vizinho de terça-feira até o sábado (4), quando foi resgatado.

“Melhor deixar para quem precisa”

Em paralelo às buscas por pessoas que seguem incomunicáveis nas encostas, o trabalho também segue na reconstrução e no apoio às pessoas necessitadas.

Homens do Exército ajudam na retirada de móveis de casas alagadas. Na localidade de Cerro Chato, um casal lamentava a perda. A chuva começou a castigar a região no final da noite de segunda-feira da semana passada (29). Restou ao casal e ao filho de 34 anos, quatro gatos e um cachorro saírem de casa. A água atingiu dois metros de altura dentro do imóvel.

— O pavor foi a volta (para casa), ver tudo destruído. A gente trabalha tanto e perde assim — lamentou a agricultora Vera Oliveira Wilhelm.

Entidades como Lions International e Rotary Club também se dividem em ações de solidariedade, sobretudo na preparação de refeições para desabrigados e a quem trabalha no socorro.

Em visita à Linha Teotônia, acompanhando a doação de cestas básicas no interior de Agudo, a reportagem testemunhou outros gestos de solidariedade. Foi o caso de um produtor de leite que procurava uma forma de doar a sua produção. Em mais de um momento, o servidor da prefeitura perguntou se a famílias aceitavam as cestas, que foram gentilmente recusadas. “Melhor deixar para quem precisa”, eram as justificativas. 

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Gaúcha ZH