A onda de tempestades que atinge o Rio Grande do Sul desde o domingo e ingressa hoje no seu quarto dia trouxe mais estragos no começo desta quarta-feira, 25, para o estado com novos temporais fortes e até severos na Metade Sul gaúcha.
O temporal de maior severidade atingiu o município de Camaquã com danos em vários pontos da área urbana da cidade com queda de árvores, postes, destelhamentos e o colapso de estruturas. Grande parte da cidade está sem energia elétrica por efeito da tempestade severa.
De acordo com informações da Rádio Acústica, o temporal com vento intenso provocou danos em residências e há famílias desalojadas no município. As rajadas de vento foram tão fortes que chegaram a danificar as fachadas de prédios e estabelecimentos comerciais.
Além de postes e árvores inclinados, o começo da manhã de hoje mostrava muitos galhos e árvores espalhados pelas ruas da cidade da Metade Sul gaúcha. Os danos eram observados em diferentes bairros.
Defesa Civil e Corpo de Bombeiros trabalham nas ruas desde que o temporal violento de chuva e intensas rajadas de vento se abateu sobre a cidade no final da madrugada, por volta das 6h da manhã.
O Hospital Nossa Senhora Aparecida também foi atingido e faz uso de geradores de energia para manter seus serviços. A instituição chegou a avaliar a possibilidade de remover alguns pacientes devido aos alagamentos em algumas alas.
Estragos em outras cidades da região
As nuvens muito carregadas que estavam sobre a Metade Sul do Rio Grande do Sul na madrugada de hoje causaram estragos também no município de Encruzilhada do Sul. Há registros de destelhamentos na localidade de Vau dos Prestes. Já na localidade de Abranjo, muitas árvores ficaram caídas com a força do vento.
Mais ao Sul, temporal com chuva de granizo foi registrado na madrugada desta quarta-feira em Piratini. Segundo a Defesa Civil, ao menos 13 casas foram atingidas. Informações preliminares indicam que há pontes submersas. Equipes da Defesa Civil ainda realizam um levantamento mais detalhado.
Granizo também foi registrado no município de Pinheiro Machado, na Serra do Sudeste. O temporal ocorreu na localidade de Torrinhas, onde a Defesa Civil também atua para apurar a extensão dos estragos da tempestade severa.
Microexplosão é a provável causa dos danos em Camaquã
Uma microexplosão, uma corrente de vento descendente violenta que se espalha de forma radial ao atingir a superfície, é a muito provável causa dos estragos no município de Camaquã no final da madrugada, de acordo com a avaliação da MetSul Meteorologia.
Uma frente semi-estacionária se convertendo em frente fria com deslocamento pela Metade Sul do Rio Grande do Sul formou nuvens carregadas durante a madrugada e a imagem de satélite do momento do temporal em Camaquã mostrava nuvens enormes com topos de até -70ºC sobre a cidade.
Estações meteorológicas tanto do Instituto Nacional de Meteorologia como mantidas por empresas e produtores rurais não acusaram vento muito intenso em Camaquã, ou seja, foi um evento localizado na cidade, como são as microexplosões, fenômeno também conhecido como downburst.
O que é um dowburst ou microexplosão atmosférica? Este tipo de fenômeno ocorre principalmente no verão porque é a época em que os dias são muito quentes e, sob a presença de umidade alta, formam-se nuvens de grande desenvolvimento vertical do tipo Cumulonimbus (Cb) que podem atingir até 15 a 20 quilômetros de altura e são capazes de gerar vento destrutivo.
Em sua página na internet, o National Weather Service dos Estados Unidos explica o que é um downburst – uma corrente descendente de vento violenta – que é capaz de produzir estragos e danos tão graves quanto o de um tornado pela enorme velocidade que o vento pode atingir durante os episódios deste tipo de fenômeno.
“Um downburst é uma forte e relativamente pequena área de ar rapidamente descendente debaixo de uma tempestade que pode resultar de vento muito forte em altitude sendo transportado para a superfície. Ou pode ser efeito do resfriamento muito rápido do ar com a chuva que evapora em uma atmosfera inicialmente seca. O ar mais frio e denso desce rapidamente para a superfície.
Um downburst se diferencia do vento uma tempestade comum pelo seu potencial de causar danos próximos à superfície, onde se espalham ou divergem consideravelmente. Ao contrário, em tornados convergem para uma faixa estreita do terreno.
Downbursts intensos podem ser fenomenais. Velocidades do vento podem atingir marcas tão altas quanto as observadas de 281 km/h em Morehead City (Carolina do Norte) e 254 km/h na base aérea de Andrews (Maryland). Fortes episódios de downburst podem causar sons e ruídos que as pessoas frequentemente mencionam como sendo de um trem de carga, termo tipicamente associado a tornados.
Embora downbursts não sejam tornados, podem causar danos equivalentes a de um tornado pequeno ou médio, afinal vento é vento. Downbursts são classificados como macrobursts ou microbursts, dependendo da extensão da área afetada pelo vento. Os danos de macrobursts se estendem horizontalmente por mais de quatro quilômetros enquanto nos microbusts os ventos destrutivos ocorrem em área inferior a quatro quilômetros”.
Uma nuvem Cumulonimbus, pelas suas correntes ascendentes e descendentes violentas, dentro e junto à nuvem gera turbulência forte a severa, granizo, formação de gelo, raios e por vezes tornados, o que é um risco para as aeronaves principalmente no pouso e decolagem ante o perigo de cortantes de vento e correntes descendentes violentas (microburst).
Depois de vários acidentes aéreos causados por correntes descendentes (downbursts) nos Estados Unidos, aeroportos passaram a contar com radares meteorológicos e foram realizados vários estudos no país. O caso mais famoso é do desastre do voo Delta 191 em que morreram 137 pessoas. A aeronave se preparava para pousar no aeroporto de Dallas quando foi atingida por um microburst, uma corrente de vento descendente intensa em uma nuvem de tempestade, e o avião foi levado a se chocar contra o solo a um quilômetro da pista.
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MetSul – https://metsul.com/microexplosao-com-vento-destrutivo-atinge-cidade-da-metade-sul-gaucha/