O outono de 2024, que começa à 0h06 desta quarta-feira (20) no Hemisfério Sul, com o equinócio, caracteriza-se como uma estação de transição do calor do verão para o frio do inverno. A estação começa com o Oceano Pacífico ainda sob El Niño depois de vários anos em que o outono teve início ou sob a influência da La Niña ou em fase de neutralidade.
Na semana em que se inicia o outono, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Centro-Leste está em 1,1ºC, ou seja, na faixa de El Niño moderado (1ºC a 1,4ºC), mas há um mês esta área estava com anomalia de 1,5ºC, sinalizando que o El Niño enfraquece e se encaminha para o fim.
A tendência para o período até 21 de junho, quando tem início o inverno às 17h51, é que o fenômeno El Niño declarado em junho do ano passado chegue ao seu final nas próximas semanas. O Pacífico deve deixar de apresentar condições oceânicas de El Niño em meados de abril ou no mais tardar no começo de maio.
Com isso, o Oceano Pacífico deve entrar uma fase de neutralidade, ou seja, sem El Niño ou La Niña, mas que será breve e vai estar presente durante grande parte do outono que se inicia. No final da estação ou no começo do inverno se espera que condições de La Niña já estejam presentes ou muito próximas de serem declaradas oficialmente com um evento em curso.
O comportamento da temperatura no Oceano Pacífico será determinante para o clima neste outono. Neutralidade é frequentemente confundida com normalidade, mas pode trazer tanto extremos de El Niño como de La Niña. Assim, tanto na precipitação como na temperatura os sinais podem ser mistos no decorrer da estação.
Mesmo antes de um evento de La Niña ser declarado, ou no final deste outono ou nas primeiras semanas do inverno, já se observará ao longo do outono o surgimento de áreas de águas mais frias do que a média na faixa equatorial do Oceano Pacífico à medida que águas de temperatura abaixo da média do fundo do mar alcançam a superfície por um processo chamado de ressurgência.
Projeta-se um acentuado resfriamento no decorrer do outono das águas superficiais no Pacífico Equatorial junto aos litorais do Peru e do Equador, região que é denominada de Niño 1+2. Tal resfriamento deve impactar o clima no Sul do Brasil mesmo antes de um evento de La Niña estar maduro e declarado pelas agências internacionais de clima.
Quando esta parte do oceano mais próxima do Peru e do Equador se resfria, há uma tendência de maior probabilidade de ingressos de massas de ar frio no Sul do Brasil. Uma vez que o resfriamento deve ser mais pronunciado na segunda metade da estação, entre maio e junho, os reflexos se sentiriam mais tardiamente neste outono na temperatura e não agora nas primeiras semanas da estação.
CHUVA NO OUTONO
O outono marca uma mudança no regime de chuva no Centro-Sul do Brasil. Enquanto no verão as precipitações se originam mais de nuvens carregadas que se formam pelo calor e a umidade alta, a partir do outono a chuva passa a ter como causa principal a passagem de frentes frias e centros de baixa pressão.
Mais ao Sul do Brasil não há uma estação seca e outra chuvosa, como ocorre no Centro do país. Porto Alegre, por exemplo, tem média de precipitação de 120,7 mm em janeiro, no auge do verão, e de 112,8 mm, último mês do chamado outono meteorológico (março a maio).
A cidade de São Paulo, que possui estações seca (inverno) e chuvosa (verão) tem média de precipitação mensal de 292,1 mm em janeiro e 66,3 mm em maio. Com isso, à medida que o outono avança, a tendência é de diminuição da chuva no Centro-Oeste e no Sudeste do Brasil.
Em junho, não raro, se produz na Região Sul, em particular no Rio Grande do Sul e no Leste de Santa Catarina, a atuação de frentes quentes, tipo de sistema meteorológico muito menos comum que as frentes frias e que são mais frequentes nos meses frios do ano. Quando estas frentes quentes se formam sobre o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina costumam trazer altos volumes de chuva e ainda temporais com muitos raios e, principalmente, granizo.
O outono é a estação com menor frequência de temporais no Centro-Sul do Brasil, mas tempo severo ocorre em qualquer época do ano. Episódios de fortes temporais com granizo e vendavais durante os meses do outono estão fartamente documentados nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e o Sul, inclusive com episódios de tornados.
Em 2024, a tendência é de um outono com chuva perto e acima da média em parte do Sul do Brasil. Somente no segundo dia do outono, em 21 de março, por efeito de uma intensa frente fria que chegará com temporais, muitas cidades gaúchas podem ter entre 15% e 30% da precipitação média histórica da estação inteira.
No decorrer da estação, a tendência é de chuva acima da média no Sul principalmente no Rio Grande do Sul e no Leste de Santa Catarina e do Paraná. Há risco de episódios pontuais de precipitação muito intensa, com elevados volumes, capazes de gerar cheias de rios, deslizamentos, alagamentos e inundações. Áreas do Noroeste e do Norte paranaense podem se ressentir de precipitação abaixo da média histórica sazonal de outono.
Na maior parte do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil, a perspectiva é de chuva abaixo ou perto da média no outono, mas há uma exceção. Áreas do litoral e perto da costa nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro podem ter chuva acima da média por eventos de chuva volumosa associados a passagens de frentes frias e fluxo de umidade marítima interagindo com o relevo da Serra do Mar. Já no começo da estação, entre os dias 22 e 25 de março, há risco de um evento de chuva volumosa a excessiva nestas áreas.
CLIMA NO OUTONO TEM MUDANÇA NA TEMPERATURA
O clima no começo do outono tem condições ainda típicas de verão enquanto o final da estação já está compreendido no período mais frio do ano. A chegada do outono não significa, contudo, que o calor fica para trás. Dias quentes são normais ainda em abril e maio. Mesmo em junho podem ocorrer alguns dias quentes. Quando há período quente mais prolongado em maio após dias frios há a ocorrência do chamado veranico de maio, mas ele não ocorre todos os anos.
Dados de modelos climáticos apresentam um relativo consenso quanto ao Centro do Brasil e a tendência de temperatura acima a muito acima da média, mas divergem muito quanto à temperatura no final da estação mais ao Sul do Brasil, possivelmente em consequência da maior ou menor velocidade com que projetam a instalação de um evento de La Niña no Pacífico.
A partir de todos os dados de modelos e outros de analogia histórica e teleconexões climáticas, a MetSul espera um outono com predomínio de dias de temperatura acima a muito acima da média na maioria dos estados do Centro-Sul do Brasil. A temperatura deve ficar muito acima da média principalmente nos estados do Centro-Oeste e no interior de São Paulo. Em áreas próxima da costa no Sudeste, o outono tende a ser mais ameno. Parte de Minas Gerais também pode ter um outono mais ameno com marcas perto ou abaixo da média.
No Sul do Brasil, o outono tende a ter temperatura acima da média no Paraná e com possibilidade de desvios positivos de temperatura mais significativos no Noroeste e no Norte do estado. Santa Catarina e Rio Grande do Sul devem ter maior variabilidade na temperatura com marcas perto e acima da média, em geral, no estado catarinense. No Rio Grande do Sul, temperatura mais perto da média com possibilidade de desvios positivos menores mais ao Norte do estado e marcas perto ou abaixo da média em locais mais ao Sul.
Um outono todo frio é extremamente improvável, assim, no Sul do Brasil. Isso, contudo, não significa que vai deixar de fazer frio. Muito pelo contrário. A primeira metade da estação, como é comum no final de um El Niño, terá maior propensão para temperaturas acima da média. Já na segunda metade do outono espera-se uma frequência maior de massas de ar frio.
Estes eventos de frio serão eventualmente fortes a muito fortes, especialmente em junho – que pode ser um mês frio – no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, à medida que o Pacífico Leste esfria muito. Por isso, junho pode ser um mês com maior número de dias com temperatura negativa e formação de geada, não se descartando neve, embora seja um fenômeno previsível somente em curtíssimo prazo.
A tendência, assim, é que não ocorra frio persistente e muito prolongado na maior parte deste outono, excetuando-se o último mês da estação que deve ter muitos mais dias frios em área mais ao Sul do Brasil à medida que o Oceano Pacífico se resfria rapidamente.
O outono, em regra, possui três períodos bem marcantes e distintos em suas características térmicas. No primeiro, até o fim da primeira quinzena de abril, costumam prevalecer as marcas mais elevadas nos termômetros com períodos esporádicos de calor mais forte.
Na segunda metade de abril se dá o segundo, quando a frequência de dias amenos ou frios aumenta e já podem ocorrer, dependendo do ano, até algumas noites com geada. Este período perdura até a metade de maio, quando tem início o terceiro com características climáticas já próximas daquelas observadas no inverno. O Oeste e o Sul do Rio Grande do Sul, em especial, têm maior propensão a sofrer influência de massas de ar frio durante a estação.
Um dado climático relevante é que muitas vezes no passado os dias mais frios do ano não se deram no inverno astronômico e sim ainda no outono astronômico, ao redor da segunda semana de junho. Em muitos anos, a semana do Dia dos Namorados (12 de junho) foi a mais gelada do inverno meteorológico (junho a agosto), embora pelo critério astronômico ainda seja outono.
CLIMA NO OUTONO TEM AUMENTO MARCADO DE NEVOEIRO
Outra marca do outono, como estação de transição climática, é a grande diferença de temperatura da noite para o dia. Trata-se de um dos períodos do ano com maior amplitude térmica e que também proporciona um aumento nos dias de nevoeiro.
Em Porto Alegre, de acordo com estudo das condições observadas no Aeroporto Salgado Filho, os três meses com maior número de dias de nevoeiro são maio, junho e julho, ou seja, dois meses do outono astronômico (março a junho) e um do outono meteorológico (março a maio). Maio e junho são os líderes do ranking da climatologia histórica de nevoeiro na capital gaúcha.
Com frequência, sob condições de céu limpo e ar seco, a temperatura pode variar até 20ºC ou mais no mesmo dia, o que força o uso de roupas mais pesadas no começo da manhã e vestuário mais leve no período da tarde, o chamado “efeito cebola”.
Comum no outono é a ocorrência de bruscas mudanças de temperatura. Muitas vezes na estação frentes frias avançam e as marcas nos termômetros que podem estar acima de 30ºC imediatamente antes da chegada da frente podem cair para valores abaixo de 10ºC em poucas horas.
OUTONO TEM AUMENTO DA FREQUÊNCIA DE CICLONES
As bruscas mudanças do tempo e da temperatura no outono não raramente são acompanhadas de vento forte do quadrante Oeste, do tipo Minuano, quando da presença de um ciclone mais intenso no Atlântico. O vento forte costuma vir com ciclones extratropicais (sistemas de baixa pressão), fenômeno que se torna mais frequente justamente a partir do outono e que impulsiona o ar polar para o Sul do Brasil.
As rajadas quando há ciclones costumam variar, em média, entre 50 e 100 km/h, dependendo do posicionamento do sistema de baixa pressão. Em alguns casos mais extremos, as rajadas ultrapassam 100 km/h no Sul e no Leste gaúcho com fortes ressacas do mar na costa, danos e falta de energia.
Horas antes da mudança do tempo, atuam outro fenômeno que se chama correntes de jato de baixos níveis que costumam trazer vento Norte forte seco e quente com alta temperatura, especialmente na região de Santa Maria no caso do Rio Grande do Sul, em cidades da costa a Leste da Serra do Mar nos litorais do Sul e do Sudeste.
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