Trânsito
Foto: Rádio Líder FM

No último domingo, mais um indígena morreu vítima de atropelamento na ERS-330, no trecho que costeia a Terra Indígena do Guarita. Um grupo de indígenas do setor do ABC em Tenente Portela está indignado com a situação dos frequentes atropelamentos fatais na rodovia, que liga Tenente Portela à Redentora. Considerando a histórica vulnerabilidade dos indígenas nesse trecho, o grupo está articulando um protesto com fechamento da rodovia para demandar mais segurança na via.

O número de mortes em decorrência de atropelamentos no trecho assusta. Uma busca em nossos arquivos mostra que o número de vidas perdidas é extremamente significativo. Neste ano, já foram quatro mortes por atropelamento. Além do caso desta semana, no dia 24 de janeiro, o corpo de um indígena foi encontrado na beira da rodovia, vítima de atropelamento. No dia 10 de março, um indígena morreu ao ter a bicicleta que ele andava atingida por um veículo. Uma semana depois, no dia 17 de março, Andrea Claudino de 20 anos morreu atropelada por um ônibus da Prefeitura de Tenente Portela.

Em dezembro, havia sido registrado mais dois casos de atropelamento. No dia 10, um jovem de 22 anos, identificado como Augusto Cristão, morreu na saída de Miraguaí e no dia 11, um senhor de 52 anos foi vítima em Irapuá, ou seja, em seis meses foram registradas setes mortes no trecho entre Miraguaí e Tenente Portela. A média de mais de uma morte por mês é um número absolutamente assustador para os padrões da nossa região.

Os números vão além. Em 19 de novembro do ano passado, um indígena de 33 anos morreu atropelado no Distrito de Tronqueiras. No ano anterior, foi registrada a morte de mais três indígenas. Um casal, sendo ele Jandir Raimundo de 24 anos e ela Leonira Leopoldo de 27 anos morreram atropelados na rodovia em fevereiro. Em 14 de abril daquele ano, mais uma morte foi registrada, novamente na saída de Miraguaí para Tenente Portela.

Se voltarmos um pouco mais no tempo, em 2021 foram pelo menos mais três ocorrências, sendo uma registrada no dia 19 de abril, que vitimou Zaquel da Rosa, no Bairro Irapuá. Em junho, um jovem de 16 anos foi vítima de um atropelamento na Estiva, território de Redentora e um mês depois, outro acidente do mesmo tipo atingiu um indígena nas proximidades de Três Soitas em Tenente Portela. Nessas últimas duas ocorrências, as vítimas sobreviveram.

A ERS-330,  que no trecho passa quase que integralmente ao lado da Terra Indígena do Guarita, é caracterizada por um grande fluxo de indígenas transitando como pedestres sobre a via. Inúmeros acidentes de trânsito com mortes de indígenas já foram registrados nesse trecho ao longo dos anos. Nossa pesquisa voltou até o ano de 2010 e constatou que não houve nenhum ano sem o registro de morte de indígena por atropelamento. Em média pelo menos três indígenas  foram atropelados por ano.

Mesmo sem uma estatistica oficial, é fácil constatar que foram muitas mortes no perído. Basta pegar o recorte dos últimos três anos. Estatisticamente falando foram cerca de 42 acidentes nos últimos 10 anos. A grande maioria resultando em mortes fatais. Registre-se aqui, que esse não é um número oficial, mas apenas uma estimativa baseada em pesquisa de notícias de casos que saíram na imprensa nesse período.

Os indígenas estão exigindo que o Governo do Estado apresente alternativas para aumentar a segurança do tráfego na região. Entre as propostas estão a instalação de redutores de velocidade nos trechos mais movimentados e a criação de um caminhodromo que permita o deslocamento dos indígenas sem a necessidade de utilizarem a pista de rolamento.

O cacique Valdonês Joaquim teve uma reunião com o DAER em Porto Alegre e disse à nossa reportagem na tarde desta quinta-feira que não descarta inclusive entrar com uma ação junto ao Ministério Público para pedir providências. Ele lamenta o número de mortes, enquanto as autoridades não têm dado atenção às importantes demandas apresentadas para tentar frear as ocorrências e as perdas de vida.

A Câmara de Vereadores de Miraguaí também já se pronunciou sobre o assunto e, inclusive, por iniciativa do vereador Marcos Guterres, MDB, enviou uma moção de apoio ao pedido das lideranças indígenas, junto ao DAER.

Para o cacique Valdonês, a resposta do DAER de Porto Alegre foi de que os pedidos seriam encaminhados para estudos pela superintendencia de  Palmeira das Missões. A expectativa é uma reunião com a presença de outras lideranças da região, inclusive prefeitos,  seja marcada para que se encontre uma solução.

Receba as notícias do Três Passos News no seu celular:

https://chat.whatsapp.com/HFKl9gaK9NmEi5SMTiG16p

Jornal Província