Comportamento
Foto: Arquivo Pessoal

Ao receber a primeira dose da vacina contra a covid-19, na terça-feira (20), a contadora Alessandra Fraga Lemos, 33 anos, de Gravataí, surpreendeu as equipes de vacinação ao abrir um cartaz em homenagem aos pais, que morreram em consequência do coronavírus. Para ela, foi como se ambos estivessem ao seu lado naquele momento, considerado por Alessandra um dos mais importantes da vida.

— Foi um dia de vitória para mim. Mas fiz questão de lembrar que muitos não conseguiram chegar até esta data. Meus pais contraíram covid-19 uma semana antes de receberem a primeira dose — conta Alessandra.

Os pais da contadora, o coordenador financeiro aposentado Alexandre Rocha Lemos, 63 anos, e a dona de casa Neusa Maria Fraga Lemos, 62, positivaram para covid-19 no início de abril deste ano. Neusa foi a primeira a apresentar os sintomas, na Páscoa, e em 8 de abril, já com falta de ar, foi à UPA e descobriu estar com 30% de comprometimento dos pulmões. Dois dias depois, a dona de casa precisou ser internada no hospital de campanha da cidade. Em 15 de abril, as dificuldades para respirar aumentaram e Neusa precisou ser entubada no Hospital Dom João Becker, em Gravataí.

Alessandra Lemos / Arquivo Pessoal

Enquanto a mulher lutava para sobreviver, Alexandre apresentou sintomas leves da covid-19 e foi orientado a permanecer em casa. Mas, em 23 de abril, ele sofreu uma trombose e precisou ser internado às pressas no Hospital Nossa Senhora da Conceição. O aposentado acabou perdendo a perna esquerda e o pé direito. Na sequência, Alexandre teve uma pneumonia e os rins pararam de funcionar. O pai de Alessandra precisou ser entubado e começou a fazer diálise contínua.

Em 5 de maio, Neusa foi extubada e traqueostomizada. Neste período, Alessandra visitou a mãe e conversou com ela. Quase 20 dias depois, porém, a dona de casa desenvolveu pneumotórax  – presença de ar entre as duas camadas da pleura, resultando em colapso parcial ou total do pulmão – e duas pneumonias. Neusa ainda passou por duas cirurgias no pulmão, mas veio a falecer em 26 de junho.

O pai de Alessandra conseguiu se recuperar e foi extubado e traqueostomizado. Mas, por conta da gravidade do caso, o trombo na aorta não pôde ser retirado. Alexandre, então, para finalizar a recuperação, foi transferido para o Hospital Vila Nova. Lá, ele soube da morte da mulher, o que lhe deixou deprimido, mas com vontade de seguir vivo pela família. Em 8 de julho, dia em que receberia alta, Alexandre sofreu uma parada cardiorrespiratória fatal, em decorrência do trombo causado pela covid-19.

— Eles lutaram muito pela vida. Meu pai, mesmo triste com a morte da mãe, queria viver por mim, que sou filha única — conta Alessandra.

Alessandra Lemos / Arquivo Pessoal
Alessandra com os pais, em seu aniversário de 30 anosAlessandra Lemos / Arquivo Pessoal

Segundo a contadora, os dois, casados há 36 anos, eram a referência em alegria para a família. Neusa era a tia responsável pelos bolos de aniversário para os sobrinhos. Alexandre, o tio que dava carona para as festas.

— Fui muito abençoada por ser filha deles. Deixaram só boas memórias. Por isso, digo: quem ainda não se vacinou, não espere perder alguém que ama para perceber a importância destas doses. Vacina é vida! — afirma Alessandra, emocionada.

GZH