Saúde
Foto: Reprodução

Em agosto de 2019, o vendedor Renato Astur descobriu o câncer de pulmão aos 57 anos. Ao se incomodar com uma tosse seca que teimava não ir embora, ele foi em busca de um diagnóstico. Após mais de três meses passando de consultório em consultório – e ter seu sintoma erradamente associado a refluxo –, recebeu o diagnóstico de câncer depois de fazer uma tomografia. O exame só foi indicado pela pneumologista por “precaução”, já que Astur não integrava o grupo de risco: além de não fumar, ele tinha uma alimentação saudável e era um adepto de várias atividades físicas, como natação no mar, ciclismo e montanhismo.

“A profissional que fez a tomografia saiu de trás daquela parede e vidro e me perguntou: ‘Você veio aqui por quê?’ Respondi que era porque minha tosse não passava. Questionei se tinha dado algo no exame, e ela me respondeu que minha médica falaria comigo. No mesmo dia a secretária da pneumologista me ligou dizendo que a médica queria falar naquela tarde. Fui no consultório. A médica me mostrou a tela do computador e estava tudo branco, dos dois lados. Questionei o que era aquilo e ela disse que provavelmente era câncer. Aí o meu chão abriu. Porque, até então, tudo o que você sabe sobre esse tipo de doença que é que você vai morrer rápido.”

Diante do desafio de tratar o câncer que já estava em estágio avançado e com metástase, ele decidiu escrever o livro “Eu não fumo” (editora Chiado), com direitos autorais doados ao Hospital do Graac, referência no tratamento do câncer infantojuvenil.

O câncer de pulmão é o segundo tipo de tumor mais comum no País e atinge cerca de 30 mil brasileiros por ano. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que o tabagismo é responsável por cerca de 90% dos diagnósticos desse tipo de tumor. Não há dúvidas de que o principal fator de risco para a doença é o tabagismo. Por isso, a grande maioria dos casos está concentrada em fumantes ou ex-fumantes. Entretanto, casos como o de Astur têm se tornado mais comum no mundo todo e a tendência chama a atenção de especialistas.

Um estudo feito recentemente nos Estados Unidos, com 12.103 pacientes com câncer de pulmão descobriu que entre 1990 e 1995, pessoas que nunca haviam fumado representavam 8% do total de casos da doença. Entre 2011 e 2013, a participação dessas pessoas subiu para 14,9%. Os autores descartaram problemas estatísticos e concluíram que “a incidência real de câncer de pulmão em nunca fumantes está aumentando”. Outro estudo no mesmo ano, com 2.170 pacientes no Reino Unido, mostrou um aumento ainda maior: a proporção de pacientes com câncer de pulmão que nunca fumaram aumentou de 13% em 2008 para 28% em 2014.

Há indícios de que a incidência absoluta de câncer de pulmão em nunca-fumantes vem aumentando. Um dos obstáculos para entender melhor essa tendência é o avanço no diagnóstico, que também contribui para mais detecção da doença.

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O Sul