Dois perfis de Alexandra Salete Dougokenski, 35 anos, serão apresentados ao município de Planalto, no norte do Estado, nesta quarta-feira (18). É quando deve chegar ao fim o júri, no qual a mãe é acusada de ter assassinado o próprio filho e escondido o corpo do garoto numa caixa de papelão ao longo de 10 dias. De um lado, a acusação buscará apresentar uma mulher fria, que asfixiou o menino até a morte porque ele desobedecia suas ordens, e, de outro, a defesa tentará apresentar uma mãe zelosa, vítima de série de violências, e que teria sido injustiçada.
Nesta terça-feira (17), as sete testemunhas que restavam foram ouvidas no Fórum em Planalto. Com isso, a próxima etapa a ser realizada nesta quarta-feira, no terceiro dia de julgamento, que inicia às 8h30min, é o interrogatório de Alexandra. A expectativa é de que a ré aproveite o momento para detalhar aos jurados sua versão dos fatos, buscando a absolvição.
Ao longo do caso, Alexandra apresentou diferentes relatos para o sumiço e morte do filho. Mas a tendência é de que no júri volte a acusar o pai do garoto de ter sido o autor do crime e ter cometido série de violências anteriores contra ela. Até o momento, essa foi a linha mantida pela defesa da mãe de Rafael. Os advogados sustentam que ela não cometeu o crime e que o autor seria Rodrigo Winques. O agricultor também foi ouvido nesta terça-feira, e negou envolvimento no crime.
Na saída do plenário, o advogado Jean Severo, que defende Alexandra, disse que amanhã pretende exibir aos jurados as provas contra o pai, que não pode apresentar nesta terça-feira, já que ele não quis responder parte das perguntas da defesa.
— Foi excelente, o pai do Rafael não sabia nem a data de nascimento do filho. O pai do Rafael fugiu dos questionamentos. O pai do Rafael não quis participar da acareação. Aí eu pergunto: o por que ele fugiu? Eu queria mostrar para ele hoje (as provas), mas ele fugiu como o diabo foge da cruz — atacou.
As testemunhas indicadas pela defesa, como o filho mais velho, a mãe e o irmão de Alexandra, defenderam a ré. Alegaram que ela era uma mãe dedicada ao filho, que costumava levá-lo na escola, que tinha papel de mãe e pai, e que nunca agrediu aos filhos. É essa visão que deve ser sustentada pela defesa.
MP vai buscar pena máxima
Por outro lado, a acusação deve traçar outro perfil de Alexandra, que já vem sendo salientado ao longo dos depoimentos ouvidos no júri. O Ministério Público deve esmiuçar as faces de uma mãe capaz de matar o filho porque ele não lhe obedecia e não acatava suas ordens para parar de jogar no celular.
— É visível que vai se confirmando aos poucos tudo aquilo que o MP vem dizendo desde o início dessa investigação: Alexandra Salete Dougokenski matou o próprio filho sozinha, na madrugada de 14 para 15 de maio de 2020, no próprio seio familiar — disse o promotor Diogo Taborda, que atribuiu os relatos dos familiares em defesa de Alexandra ao elo emocional que possuem com a ré.
Logo depois, o promotor Marcelo Tubino rechaçou qualquer possibilidade de o pai de Rafael ter cometido o crime contra o filho, e disse que todas as suspeitas foram investigadas e descartadas na época do desaparecimento.
— Hoje a comunidade pode ver a simplicidade desse pai. Não consigo nem imaginar a dor que ele deve estar sofrendo, por ter perdido um filho, ter confiado numa pessoa e agora cruelmente de novo está sendo acusado pela morte do próprio filho. Isso é um absurdo que tem sido feito aqui. E hoje a comunidade ouviu o Rodrigo. Viu a simplicidade dessa pessoa, a dificuldade que tem às vezes até de se expressar. O Rodrigo nunca fez parte. O crime foi cometido tão somente por Alexandra — descreveu o promotor.
Por fim, a promotora Michele Dumke Kufner, que acompanha o caso desde o sumiço de Rafael, e foi a responsável pela denúncia contra Alexandra, sustentou que a acusação está tranquila com as provas presentes no processo e o que foi produzido durante a investigação.
— Temos plena convicção da culpa da Alexandra, da responsabilização dela pela morte do filho e amanhã vamos buscar que finalmente a Justiça seja concretizada e que ela seja condenada a uma pena exemplar, em razão de ter matado o filho da forma como fez, cruelmente, enganando durante dez dias uma sociedade inteira — afirmou.
Como deve ser o dia
A expectativa é de que o resultado do julgamento seja conhecido no começo da noite desta quarta-feira. Mas tudo depende da duração do interrogatório de Alexandra. Na fase processual, a fala dela se estendeu por cerca de quatro horas. Em razão disso, a expectativa é de que o relato dela se encerre ainda durante a manhã. A ré ainda pode optar, por exemplo, por não responder as perguntas da acusação, o que reduziria o tempo de fala.
Logo depois, acusação e defesa terão uma hora e meia cada para apresentar seus argumentos. Caso o MP opte por realizar a réplica, terá mais uma hora, e a defesa também uma hora para a tréplica. Por fim, os jurados se reúnem e decidem se a ré é ou não culpada pelos crimes. Além do homicídio qualificado, Alexandra responde por ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
Após a decisão dos jurados, é a juíza Marilene Campagna quem estabelece, em caso de condenação, o tempo de pena. É ela também quem lê a sentença, independente se o resultado for a condenação ou absolvição da ré.
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Gaúcha ZH