Polícia
Foto: Arquivo Pessoal

Série de indícios levou a polícia a suspeitar de que um caso, que se iniciou como suicídio, poderia ser uma tentativa de esconder um crime. Na manhã do último sábado (26), Mariana Canofe Marques, 21 anos, foi encontrada morta dentro de casa em Guaíba, na Região Metropolitana. O companheiro dela, o policial militar Jonatan da Rosa Ildebrand, 26, foi detido em flagrante e teve prisão convertida em preventiva.

A investigação elencou até o momento indícios principais de que a morte de Mariana não teria acontecido como narrou o companheiro, que envolvem uma janela, o local onde estava o corpo e uma mancha de sangue.

O primeiro indicativo é a versão do PM de que precisou arrombar a janela da residência para poder ingressar na casa. Segundo a delegada Karoline Calegari, não havia nenhum sinal de arrombamento no ponto indicado.

IGP RS / Divulgação
Policiais em frente à residência onde a jovem foi assassinadaIGP RS / Divulgação

Além disso, conforme a polícia, Ildebrand afirmou que havia cortado a corda na qual o corpo de Mariana estaria suspenso na presença do pai da vítima. Mas o pai nega que tenha presenciado esse momento.

— Só quem teria visto ela pendurada foi ele — diz a delegada.

Foi localizada ainda uma mancha de sangue distante do local da cena do crime, no outro lado do sofá. Quando ouvido, o companheiro disse que depositou o corpo de Mariana naquele local, próximo de onde estava o avô dela, e que, por isso, teria se formado a mancha.

— Ele disse que colocaram ela ali para reanimar. Mas era evidente que ela estava morta. Todos perceberam isso. O avô nega que em algum momento tenham colocado ela no sofá. Além disso, a vítima tinha lesão significativa na cabeça. Essas circunstâncias somam-se a histórico forte de violência doméstica. Havia série de registros por parte da vítima, e ele já havia estrangulado ela antes, usado uma corda — afirma a delegada.

Uma testemunha ouvida nesta terça-feira (29) confirmou que Mariana já havia relatado esse tipo de agressão, que teria deixado marcas em seu pescoço. Por mensagens, teria afirmado que se algo acontecesse com ela, ele seria o autor, segundo apurou a investigação. Os policiais ouviram ainda um relato de que dois cães da vítima foram encontrados mortos anteriormente numa situação semelhante ao que aconteceu no caso de Mariana.

— Os cães foram mortos por asfixia. E nas duas vezes foi ele quem encontrou, na presença de um familiar dela. E havia essa suspeita de que ele forjava essa situação e tentava criar um álibi. Ao localizar os animais mortos estava sempre na companhia de outra pessoa. Agiu da mesma maneira com ela — diz a delegada.

Uma testemunha relatou ter visto Ildebrand deixando a moradia por volta das 2h30min de sábado e fechando a janela por fora. A polícia acredita que antes disso ele tenha golpeado a vítima na cabeça, estrangulado e então saído pela janela. Logo depois, foi a duas festas, onde estaria trabalhando como segurança. 

Por volta das 8h, Ildebrand chamou um familiar de Mariana para que o levasse até outra casa que mantinha e por lá permaneceram conversando por cerca de uma hora. Ele teria dito que a jovem estava com comportamento estranho e ideação suicida, e que temia que ela fizesse algo contra si mesma. Para a investigação, essas alegações já faziam parte do plano para tentar despistar o crime.

— Esse mesmo parente o levou até a casa da vítima. Ele pediu que o parente não fosse embora até ele entrar. Então, começou a chamar a vítima e simulou que arrombou a janela, embora não haja vestígios. Então teria encontrado o corpo — explica a delegada.

Violências anteriores

A polícia ouviu relatos de testemunhas que confirmaram que Mariana sofria violência psicológica, com ameaças contra a vida dele e de familiares. A jovem já teria sido vista com os braços roxos e o pescoço machucado, em razão de esganadura. Por duas vezes, a vítima chegou a solicitar medida protetiva, mas retomou a relação posteriormente. Mariana não tinha medida protetiva atualmente.

— Ela vivia o ciclo da violência. Ele reconquistava a vítima, levava flores, dizia que ia mudar. Pelo que apuramos até agora, ela não queria mais manter essa relação, mas estava com ele por medo. Na noite anterior ao crime, eles brigaram e ele chegou a chamar os familiares dela para intermediar, dizendo que ela estava louca. Isso é comum, o agressor desacreditar a vítima na frente das outras pessoas. São fortes os indícios de feminicídio — diz Karoline.

A polícia aguarda os laudos da perícia, que devem ajudar a entender a dinâmica dos fatos e segue ouvindo testemunhas. A prisão em flagrante de Ildebrand foi convertida em preventiva pela Justiça.

Contraponto

Em resposta a GZH, o advogado Carlo Velho Masi, que defende o BM, emitiu uma nota no começo da noite desta terça-feira (29):

A defesa técnica do policial militar Jonatan da Rosa Ildebrand pediu habi­litação nos autos do inquérito e pretende estudar detalhadamente os indí­cios produzidos até o momento para colaborar com a elucidação do caso, inclusive formulando requerimentos de produção de provas que entende imprescindíveis à confirmação das alegações trazidas pelo investigado. Via de regra, a prova testemunhal, por depender da memória e das impressões humanas, não consegue reconstituir por completo o fato, de modo que, neste caso, as perícias tendem a ser elementos relevantes.

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